Água de reuso – tentando acalmar a seca

Ufa! Finalmente as chuvas voltaram! Ainda que a região sul do Brasil tenha registrado grandes precipitações ao longo do ano, o sudeste e partes do nordeste e centro-oeste nunca viram tanta seca. As últimas chuvas importantes foram registradas em fevereiro e, depois disso… só no final de outubro elas começaram a voltar. Rios importantes como São Francisco e Paraibuna baixaram severamente seus níveis, reservatórios gigantescos como o Cantareira em São Paulo praticamente secaram. Um cenário inimaginável (afinal, já estamos acostumados a pensar que no Brasil nunca falta água) e terrível passou a fazer parte do nosso cotidiano.

Mas há um lado bom nessa estiagem toda. A primeira delas – e fundamental – foi de caráter educativo: percebemos que, SIM, nossa água pode acabar. Temos o maior sistema hídrico de água doce do mundo mas ele pode secar sim, senhores. A outra vantagem é que finalmente aprendemos a usar a água com sabedoria (e não mais com o desperdício usual de cada dia), além de aprimorarmos os processos de produção de água potável e de reuso da água proveniente de usos residenciais – inclusive do esgoto. Através de técnicas de decantação e filtragens diversas como osmose reversa e filtros de carvão ativado, a água já utilizada uma vez volta a ter qualidade para ser usada novamente.

Reutilizando água, já que não tem “água nova”

Essa é exatamente a ideia do reuso: se a oferta de água está tão baixa, melhor darmos um jeito de reutilizar aquela que já usamos. Mas como se faz isso? É seguro?

Ainda tem água naquele descarte, por mais difícil que seja aceitarmos isso. A água que vai pelo ralo da pia da cozinha e do banheiro, a água do banho e das descargas, a água das lavagens de roupa e dos carros… Tem muita água envolvida nesses processos, e a ideia e pegá-la de volta para sua reutilização – AINDA que não seja para o consumo humano (caso você esteja fazendo a mesma cara de nojo que fiz aqui).

Cada forma de uso da água a polui de uma maneira diferente. Aquela usada na lavagem de roupas fica contaminada por saponáceos, amaciantes e a própria sujeira das roupas; a das pia de cozinha ficam impregnadas de gordura, detergente e restos de alimentos; a das descargas… bem, você pode imaginar. Por isso, o tratamento da água para reuso deve prever a presença dos mais diferentes materiais na mesma, e deve ser eficiente o suficiente para removê-los por completo.

Nos tanques de tratamento desta água (que não são os mesmos usados no tratamento da água “virgem”, o material bruto é decantado várias vezes e filtrado outras tantas; cada filtragem é feita para retirar partículas cada vez menores de sedimentos, até que só reste uma água, digamos, “colorida”, porém sem partículas suspensas (aquelas sujeirinhas que ficam flutuando na água suja). Deste ponto em diante, ela passa por filtros especiais e de diferentes composições – alguns com cartuchos de polipropileno para filtragem de micropartículas e bactérias, outros de carvão ativado para a remoção de gases e odores.

A pureza da água depois desse processo chega a 99%. O problema é que as filtragens acabam removendo não só as sujidades mas, também, os minerais importantes para a saúde humana – e é por isso que essa água não é utilizada para consumo. Ela pode ser usada para outros fins, como rega de jardins, lavagem de carros ou mesmo para ser reconduzida ao leito dos rios, ajudando na recuperação da vazão.

Será que agora, depois de tanta seca, aprendemos a lição? Ou será um aprendizado passageiro?